01 abril, 2010

Desenraizamento


Dia desses, flagrei-me triste de tão solto. Faz tempo que me incomoda uma leveza ruim. Sinto meus afetos pulverizados por todas as minhas partidas. Não sei o que é viver mais que cinco anos em um mesmo lugar.

Invejo os velhos amigos. Meus velhos já não são tão amigos. Boquiaberto e silente, observo o desconhecido mundo daqueles que convivem desde há muito. Nem tenho sotaque, nem grandes e antigas amizades, nem velhas memórias da mesma história, nem o silêncio da intimidade que prescinde das palavras e nem as conquistas que demandam tempo.

O tempo? Nada dele sei. Sei do espaço. Percorro tantos quanto fôlego precisar para do tempo fugir. Sei do Rio, Fortaleza, São Paulo, Curitiba, Brasília. Mas de ontem eu me esqueci. Não tenho ontem. Tenho somente lugares.

Despedi-me de todos os meus amigos. Sou um Sísifo dos afetos. Ah! Sei tudo de recomeço. Condenei-me a sempre empurrar morro acima minhas novas histórias, amizades e projetos. Quando chego, já estou indo. Se você precisar de conselhos sobre como reiniciar a vida, pergunte-me. Contanto que nada queira saber sobre conclusões. Nada sei sobre os dias seguintes.

Talvez por isso tenha aprendido a amar as corridas de rua. Esporte dos solitários. Daqueles que conseguem ir mesmo que desacompanhados. Daqueles para quem importa mais ir que ficar. Cada corrida é uma despedida e toda chegada é provisória. A alegria da medalha apenas indica a próxima aventura. Somente quem nunca chega o bastante está apto para ser um corredor de rua.

Mas sou bom de conversa. Tenho muitas histórias para contar, caso aceite minhas várias e avulsas memórias. Mas por favor, como já combinamos, não me pergunte sobre depois. Toda sequência é para mim uma incógnita.

Sinto-me um Don Juan. Aprendi a seduzir, mas não sei não me despedir. Medo de chegar? Medo de nunca chegar? Medo de chegar aonde realmente quero? Talvez. Tais vezes.

Elienai Cabral Jr.

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Kibei do Blog do Elienai Jr

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Nessas horas eu me pergunto:
O que foi que nós fizemos?
Quando foi que perdemos o limite, esquecemos a essência?
O que foi que nos acometeu?

Por quê fizemos que homens abandonem seus amigos, migrem de seus lares em nome de uma instituição?

Não é bom que o homem viva só. Não é bom que ninguém sofra.
Eu rejeito essa teologia de sofrimento.

Eu não sou etinerante, mas senti e sofri a dor do autor... me comoveu.
Ufa, eu estou vivo. E o viver que vivo agora é CRISTO!


Duda.

2 comentários:

Eduardo Gazola disse...

Passou o tempo ... fui reler o texto ...


Chorei novamente ...

élide disse...

A verdadeira solidão é aquela q sentimos qdo não trilharmos o caminho do verdadeiro percurso.E isto independe do fator tempo,lugar,ponto de partida e ponto de chegada...Para cada situação q vivemos existe um desabafo,o itinerante desabafa a despedida, os outros a monotonia...