19 maio, 2010

Em breve teremos que escolher




Princípios e valores do Reino de Deus

O primeiro princípio, em minha opinião, é a justiça. Deus é justo e o seu desejo revelado em toda Escritura Sagrada é que os cidadãos do seu reino sejam justos e favoreçam a implantação da justiça em todas as instâncias da sociedade humana. No Antigo Testamento, a palavra JUSTIÇA se encontra em dezenas de textos, com os termos, frequentemente usados no hebraico, tzedheq ou tzedhãqâ, que expressam o sentido de retidão. Fica evidente que o desejo divino é que o seu povo viva em retidão, praticando a justiça em toda e qualquer situação.

O segundo princípio é um caso particular da justiça: a justiça social. Aqui está um dos principais pontos para se refletir sobre uma política à luz do ensino bíblico. Em toda a Escritura Sagrada, encontraremos o desejo divino, de que haja na humanidade a justiça social. O pecado original produziu conseqüências desastrosas na criação, sendo uma delas a pobreza social, como decorrência da opressão entre os páreos humanos: a pobreza em função da sórdida ganância, a pobreza em função da avareza incontrolada da busca do ter, a pobreza social em função de todo tipo de exploração praticada nas relações humanas, a pobreza social em função dos preconceitos sejam eles do tipo racial, de gênero, religioso ou de qualquer outra forma de se estabelecer uma ação preconceituosa.

Convém destacar aqui que não compartilhamos com a idéia de que a pobreza social é maldição, fruto de uma teologia equivocada e tão propagada no meio evangélico contemporâneo, que é a teologia da prosperidade. Partilhamos, ao contrário, da idéia de que tanto a pobreza quanto a riqueza sem Deus se constituem em maldição na vida do ser humano. Na Bíblia, temos o desafio para vivermos e praticarmos a justiça social.

Leia os seguintes textos e faça a constatação se de fato não é isso que Deus deseja: Isaias 1.17; Jeremias 22.16-17; Daniel 4.27; Salmo 112.9; Deuteronômio 15.1-11; Salmo 146; Mt 5-6 (o sermão do monte); Lc 11 (a multiplicação dos pães).

O ministério de Jesus é caracterizado também pelas curas e pelo restabelecimento da dignidade humana. Foi assim com as mulheres, com os samaritanos, leprosos e vários outros que viviam à margem da sociedade.

Atos 6.1-7; João 15.4-5; Efésios 2.10; Tito3.1; Tiago 4.1-10; Tiago cap. 2. e muitos outros textos comunicam o desejo divino de justiça social para a humanidade. Os textos citados servem para iniciar uma reflexão sobre a Justiça Social.

Como terceiro princípio, temos a cidadania. Este é outro grande aspecto a se levar em conta para uma política à luz da Bíblia. Lembremos que o conceito de cidadania, proposto pelos racionalistas franceses, é muito abrangente em sua definição. O maior expoente desta corrente de pensadores foi o filósofo Rosseau, que a definiu nestes termos:

“Cidadania é um estado qualitativo conquistado pelos membros de uma determinada sociedade. Estes assumem, responsavelmente, o poder de gestão da política social, sob a perspectiva da universalização dos benefícios sociais.

“Por definição, cidadania designa um corpo social de cidadãos, correspondente a uma coletividade formalmente instituída, cujos membros (cidadãos) possuem direitos políticos assegurados, considerando o povo dentro de um critério político. Ou seja, a sociedade é avaliada qualitativamente segundo o critério político da capacidade de refletir e gerenciar politicamente a realidade social. Nesse sentido, vale salientar novamente que, em termos de cidadania, o status de povo não reside na quantidade de indivíduos que o citado povo engloba, mas no poder indiscutível da vontade política reunida dos indivíduos livres que constituem o povo, soberano.”

Os princípios cristãos de eqüidade, de respeito e de uma construção social a partir do povo, possivelmente, serviram para a formulação do pensamento de Rosseau. Entretanto, o que é observado no Brasil é uma clara divisão de classes com a gritante desigualdade social. A economia, o avanço tecnológico, a riqueza concentrada nas mãos de poucos (cerca de 10% da população possuem mais da metade de toda a riqueza brasileira), fazem do Brasil um dos países com piores índices de má distribuição de renda do mundo.

Poucos desfrutam do direito aos bens e à riqueza que são produzidos no nosso país, enquanto muitos não possuem o básico para a sobrevivência humana com dignidade, sendo desrespeitados nos mais elementares direitos de cidadania.

Como quarto princípio, encontramos a educação. Ela é, sem dúvida, uma eficaz forma de acabarmos com a manipulação política por parte dos que mantém a situação deplorável desse cenário político brasileiro. Uma política educacional, com propostas voltadas para um fortalecimento do ensino público com qualidade e valorizando os profissionais da área, deve ser levado em consideração neste pleito. A educação levará o povo brasileiro a se libertar da ignorância política e da manipulação por parte dos políticos, que insistem em manter os eleitores aprisionados aos seus currais eleitorais. A Educação é a principal arma contra esses maus políticos e contra a politicagem desumana praticada no Brasil.

O quinto princípio é conhecer o histórico pessoal e político dos candidatos. Geralmente, parece que nunca levamos em conta o fato de que devemos conhecer bem o candidato em que pretendemos votar. O comum é levarmos em conta a propaganda política, a indicação de alguém, ou ainda o fato de ser parente ou pertencer ao nosso círculo de amizade. Assim, neste caso, estamos levando em consideração os benefícios pessoais que poderemos usufruir. Não é mesmo?

Além disso, estamos vendo que a indústria do marketing tem fabricado políticos, da mais baixa estatura ética, moral e de integridade, com a aparência de grandes homens públicos. São, contudo, corruptos em forma de bons políticos e honestos. Raça de víboras transformada em representantes públicos. Não é por acaso que no centro da corrupção instalada no Brasil se encontram um grande marqueteiro e uma grande agência de propaganda e marketing.

Convém fazermos uma análise, uma pesquisa sobre o passado político e pessoal do candidato para não errar o voto. Para isso, devemos observar quais os princípios e valores éticos, morais, familiares e de vida, que o(a) candidato(a) possui. Hoje, não é tão difícil fazer esta pesquisa, pois temos a internet, a imprensa e outros instrumentos que auxiliam nesta tarefa. Vale a pena gastar um pouco de tempo pesquisando para depois não se arrepender.

O sexto e último princípio é o da ética. Aqui está um ponto crucial no cenário político brasileiro, a falta de ética. A ética na política brasileira está quase extinta. Na realidade, direta ou indiretamente, todos os outros fatores da crise política estão relacionados com a questão ética. Partindo do ponto de vista ético, até mesmo os políticos que se apresentam como evangélicos, estão deixando muito a desejar. A Bíblia nos ensina que a vida cristã é para ser referencial de honestidade, integridade, transparência, verdade. Quantas vezes nos envergonhamos com a presença de políticos que se dizem evangélicos nos principais noticiários da imprensa brasileira, envolvidos em escândalos que só de fazer menção nos causa náusea. Os que deveriam ser exemplos de dignidade, honra, moral, amor e do respeito aos direitos humanos (enfim, tudo que caracteriza um cidadão do Reino de Deus) falham, perdendo a oportunidade de testemunhar no meio de uma sociedade sedenta de pessoas responsáveis em proclamar a ética do Reino de Deus.

O desafio que se apresenta a nós, povo de Deus, diante do quadro político brasileiro, é grandioso. A postura a ser tomada diante das próximas eleições deve ser de um cidadão comprometido com os valores e princípios do Reino de Deus, levando em consideração a responsabilidade com a cidadania brasileira, na qual nos inserimos. Portanto, sejamos prudentes!

* Silvandro Cordeiro Fonseca é pastor presbiteriano, capelão e professor de História do Seminário Presbiteriano do Norte, pós-graduado em História pela Universidade Federal de Pernambuco, e mestrando em Teologia e História pelo CPAJ.

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