25 fevereiro, 2010

A parábola da Chave

por Marcos Soares
Amigos, um dos meus tios tinha uma máxima muito interessante. Para ele tudo o que precisa ser forçado, tem alguma coisa errada. É melhor parar. Dar um tempo. Se você tem que forçar demais para tirar o parafuso, pare. Se o sofá não passa na porta, pare. Se você vai tentar abrir a porta do quarto, da gaveta, da casa ou do carro e a chave não vira, pare. Colocar mais força não vai resolver. Pelo contrário, pode até aumentar o problema. É assim que a chave quebra, deixando aquele pedaço irremediavelmente preso dentro da fechadura. Aí, tudo o que resta é perder tempo, dinheiro e paciência esperando a chegada do chaveiro ou arrebentando de vez o lacre.


É interessante como a gente pensa em várias possibilidades antes de tomar uma atitude extrema que arrebenta a chave. A gente pensa que a fechadura está emperrada, olha bem para ver se não trocou o carro, acha que errou a casa, entre outras bobagens, mas raramente considera a hipótese, geralmente a mais simples, mais provável e mais correta: a de que estamos com a chave errada. Nesse caso, simplesmente não adianta continuar insistindo. Não vai abrir só porque a gente usa de determinação e força a barra. Só tende a piorar.

Tenho aprendido uma coisa na vida. Lição difícil, que já causou muito estresse a mim e os que me rodeiam. Se não está funcionando, não force. Pode quebrar. Existem coisas que não se resolvem apenas com dedicação, esforço e boa vontade. Tem questões que dependem de outras inúmeras variáveis, especialmente se envolve pessoas. E pessoas (como eu e você) são complicadas. Elas não mudam facilmente, se é que mudam em algum momento. Elas se agarraram, por causa de uma falsa sensação de segurança, àquilo que é comum, tradicional ou padrão, independente de julgar aqui se o padrão é bom ou ruim, se funciona ou não.

Não é difícil entender isso. Todos nós fomos criados dentro de uma forma, adaptados a certos conceitos e valores. Mudar qualquer coisa, deixar o lugar comum, o chamado status quo, é sempre complicado. Embora muitas vezes seja necessário, não é fácil. E ai de quem quiser lutar contra isso. Por experiência própria lhes digo, não vai funcionar. A chave vai quebrar.

Alguns defendem que é preciso dar tempo ao tempo. Talvez. Mas se a chave não for daquela porta, meus amigos, podem esperar sentados o tempo que quiserem. Simplesmente não vai abrir. Tem gente que nasceu para a coisa, tem gente que não. Não adianta pedir para Noé abrir o Mar Vermelho e para Moisés construir uma arca. Cada um no seu quadrado. Ops, quero dizer, cada um no seu chamado. Se não existe talento para aquilo, se o problema é de perfil, aí não há tempo que mude o quadro. A chave vai abrir outra porta. Aquela não. Nem com pé-de-cabra.

Quem contrata pessoas sabe do que estou falando. Você seleciona, entrevista, faz testes, dá treinamento, passa pela experiência. Se o sujeito não dá para o negócio, vai por mim: não adianta insistir. Quanto mais tempo você teimar, maior será sua decepção, dores de cabeça, prejuízos, tempo perdido. Aí, quando você não agüentar mais e tiver que dispensá-lo, ainda vai ter que ouvir bobagem.

Com os amigos, com familiares, com a igreja, com os projetos no Reino, é a mesma coisa. Dizem os americanos que você pode levar o cavalo até à beira da água, mas não pode forçá-lo a beber. Não adianta. Quem não quer, não quer. Quem não está a fim tem uma capacidade inacreditável de criar um rol imenso de desculpas e ainda consegue, mais inacreditavelmente ainda, convencer os demais de que não está mesmo na hora, que não vai dar certo, que vai ser muito difícil, que nós não conseguimos.

O que fazer quando isso acontece? Quem souber a resposta ou tiver a fórmula para contornar o impasse, apresente-se, escreva um livro e fique milionário. Não acredito que exista uma equação matemática que resolva o nosso problema. Amigos mais próximos dizem que estou perdendo a fé e a esperança. Faço uma avaliação introspectiva, pode ser que eles estejam certos.

Leio, porém, nas cartas do Apocalipse, de um Deus que quando abre, ninguém fecha; quando fecha, ninguém abre. E mais, que uma porta que Deus abre ninguém pode fechar (Ap 3:7,8). Tem porta que só Deus para abrir, seria a conclusão. Neste caso, render-me-ia ao argumento de “esperar o tempo de Deus”. Mas tem um probleminha. Nas mesmas cartas, pouco à frente, encontramos uma igreja que deixou Jesus do lado de fora (Ap 3:20). Ele não arrombou a porta, não chamou um chaveiro, nem trocou de chave. Simplesmente, ele ficou batendo na porta e torcendo para que alguém resolvesse ouvir sua voz e abrir a porta. Concluo, então, que nem Deus força. Ele não gosta de fazer as coisas na marra, por imposição. Este é ponto.

Até aceito o argumento de que é preciso saber a hora de caminhar e a hora de estacionar. Pelo menos quando o povo estava peregrinando no deserto, esperando morrer a geração de incrédulos para tomar posse da terra prometida, isso funcionou como um relógio. A nuvem parava, eles paravam. A nuvem se levantava e andavam, eles simplesmente a seguiam. O que torna nossa situação mais complexa é que hoje não temos a nuvem física sobre nós. Temos, é fato, o Espírito Santo que habita em nós e nos guia a “toda a verdade”. Creio que esta expressão não se refere apenas a toda verdade doutrinária, filosófica ou teórica sobre Deus e sobre os homens, mas também se aplica às decisões que temos que tomar no dia-a-dia. O Espírito nos ajuda a discernir as circunstâncias para fazermos escolhas corretas.

Ocorre que, na prática, ele não vai fazer isso aparecendo em sonhos ou mandando um profeta te dizer se é para andar ou se é para ficar parado. Não sou adepto deste cristianismo místico e muitas vezes irresponsável que anda à solta por aí, nas bocas de “apóstolos” e “profetas.” Então, há momentos em que é preciso recorrer à Parábola da Chave. Não abriu? Não force.

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Encontrei aqui na colunet do irmaos.com

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