28 novembro, 2009

Pelo Resgate da Espiritualidade Gratuíta - Pr. José do Carmo da Silva (Zé do Egito)


Após dois mil anos, o cristianismo se encontra em crise, principalmente no Ocidente, e tal crise se manifesta visivelmente entre as Igrejas que são oriundas das herdeiras da Reforma Protestante do século XVI. Em muitas destas igrejas, principalmente as que se encontram na MÍDIA, podemos notar que os pontos da Reforma, Sola Scriptura - Somente as Escrituras. Solus Christus - Somente Cristo. Sola Gratia - Somente a Graça. Sola Fide - Somente pela Fé. Soli Deo Gloria - Somente a Glória de Deus, são amplamente desprezados. Dos pontos supracitados o perigo maior esta na distorção da Graça de Deus, pois a partir de sua reta compreensão a pessoa humana pode compreender as Escrituras, receber de Deus uma fé sadia por meio da leitura da Palavra e se relacionar com Cristo dando só a DEUS a glória.



A distorção da Graça, oriunda da deturpação da Palavra de Deus, tem gerado a riqueza de falsos pastores, e levando muitas pessoas a caírem em desgraça, espiritual, financeira e familiar. Sim, pois diante da mercantilização da fé, muitas pessoas na esperança de poderem receber algo de DEUS, sacrificam até o que não possuem, crendo que Deus ira honrá-la a partir de tal ato de fé. São muitas as pessoas que perderam bens, muitas esposas ou maridos que estão no vermelho, por sacrificarem o salário, a herança, o automóvel, às vezes até escondidos um do outro, e quando tais “sacrifícios” vieram à tona, o casamento entrou em crise, juntamente com a fé em Deus e a credibilidade no Evangelho.



Tais “sacrifícios” são ofertados não no altar do DEUS VIVO, mas sim nos altares da cobiça e vaidade, erigidos nos corações de muitas pessoas que havidas em ter, se tornam presas fáceis de falsos profetas, pois colocam seus corações nas bênçãos materiais e não no Doador delas, tornado se assim crentes materialistas, pois disse Jesus em Mateus 6.21: “Pois onde estiver o teu tesouro, ali também estará o teu coração”.



Para acabarem as "negociatas", "barganhas" e "sacrifícios" que deturpam a salvação pregada pelo verdadeiro Evangelho, precisamos voltar às fontes da espiritualidade clássica cristã, assim como Wesley fez em seus dias. É hora de queimarmos os livros de auto-ajuda falsamente intitulados "evangélicos” que prometem prosperidade e bebermos primeiramente da FONTE de todas as fontes, as ESCRITURAS SAGRADAS.



Para preencher o vácuo espiritual dos desencantados com as técnicas de enriquecer-se com coisas deste mundo, sugiro resgatarmos a espiritualidade desinteressada que brota de fontes de antigas literaturas cristãs tais como: Didaque o manual dos primeiros cristãos, “A imitação de Cristo” de Tomás Kémpis, “Experimentando as Profundezas de Jesus Cristo Através da Oração” de Madame Guyon, “Regras para um Viver e Morrer Santo” do Bispo Jeremy Taylor, “Noite escura da alma” de João da Cruz, “Aspirações da vida eterna” de Tereza D Ávila. Pessoas que cultivavam uma espiritualidade despojada, que adorava a Deus e não seu trono, que buscavam a renúncia e não o dinheiro, a reclusão e o anomimato e não a fama e o poder.



Creio que diante do estrago e vazio deixado nas almas de inúmeras pessoas decepcionadas com a falsa graça, derivada do “outro” evangelho pregado por falsos obreiros, precisamos ir além do denunciar seus arautos, devemos também oferecer remédios para a cura das doenças espirituais que nasceram da falsa compreensão da graça de Deus. E o principal remédio é a vivência de uma espiritualidade equilibrada, que brota da experiência com Deus e produz a santidade no coração e na vida do cristão.



Muitos dos misticos supracitados, principalmente Tomás Kempis e o Bispo Jeremy Taylor influenciaram muito a João Wesley no inicio de sua caminhada espiritual, obviamente que ele não abraçou acriticamente tudo o que tais místicos escreveram, mas, seguindo o conselho de Paulo, analisou todas as coisas retendo o que julgava bom. Nestes tempos de escassez espiritual, que falta bons referencias cristãos, defendo que devemos fazer o mesmo, voltarmos aos clássicos cristãos. Devemos reaprender com os primeiros cristãs a prática da oração contemplativa, a oração de submissão, baseada na espiritualidade de Jesus que diferentemente dos modernos cristãos deterministas orava dizendo: Pai, se quiserdes afastar de mim esta taça... No entanto, não se faça a minha vontade, mas a tua!.



Devemos buscar uma vida de total dependência e abandono nas mãos de Deus, crendo que Ele nos sustenta e basta, assim como diz Madame Guyon: "O abandono é uma questão de grande importância para o progresso; é a chave para a corte interior, de modo que aquele que sabe verdadeiramente se abandonar, rapidamente atinge a perfeição. Devemos, portanto, continuar firmes e imóveis, sem dar ouvidos à razão natural. Uma grande fé produz grande abandono; devemos confiar em Deus, "esperando contra toda esperança" (Rm 4,18).

Abandono é perder os cuidados egoístas, para que possamos estar todos ao dispor divino. Todos os cristãos são exortados ao abandono, pois é dito: "De fato, são os gentios que estão à procura de tudo isso: o vosso Pai celeste sabe que tendes necessidade de todas essas coisas." (Mt 6,32). "em todos os teus caminhos, reconhece-o, e ele endireitará as tuas veredas" (Pr 3,6). "Recomenda a Iahweh tuas obras, e teus projetos irão se realizar" (Pr 16,3). "Entrega teu caminho a Iahweh, confia nele, e ele agirá" (SI 37,5).

Portanto, o abandono deve ser tanto ao que diz respeito as coisas internas como externas; abandonar absolutamente todas as preocupações nas mãos de Deus, esquecendo de nós e lembrando somente Dele, por quem o coração permanecerá sempre desimpedido, livre e em paz."



Wesley viveu uma espiritualidade desapegada dos bens materiais, movido por ela, ele buscou os bens do alto e quanto aos bens terrenos (dinheiro )disse: "Ganhe o máximo que puder, poupe tudo que conseguir e dê tudo que for possível". Ele demonstrou desapego as coisas materiais, não buscava os bens desta vida, antes declarava: "Se não gastardes teu dinheiro fazendo o bem aos outros, tu gastarás em teu próprio dano", movido pelo amor aos perdidos dizia: “Temos um negócio neste mundo: salvar almas”.







Para os frustrados com a “teologia da prosperidade” que fizeram “sacrifícios”, instigados pela cobiça em seus corações, alimentada pelo “evangelho” do ter em detrimento do ser, vale estas palavras de Tomás Kempis: “Olha tu para os bens do céu, e verás que nada são os bens corporais, mas muito incertos e onerosos, pois nunca vive sem temor e cuidado quem os possui. Não consiste a felicidade do homem na abundância dos bens temporais; basta-lhe a mediania.” Estas palavras de Tomás Kempis, nada mais são do que o ecoar do que foi dito por Jesus Cristo em Mateus 6.19,21: Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.



O Apostolo Paulo, para não ir além daquilo que estava escrito, mas buscando ser fiel aos ensinamentos daquele que o encontrou no caminho de Damasco, enfaticamente ensinou a seu discípulo Timóteo: “Porque nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele. Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contente. Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão.” (1 Tm 1 de 7 a 11).



Outra coisa que precisa ser resgatada e pregada como antídoto ao veneno disseminado por falsas interpretações da graça de Deus, é o amor incondicional Dele para com o gênero humano. Deus nos ama, não por que sejamos bons, mas pelo fato de o amor ser sua essência, assim como diz João: Deus é amor. (I Jo 4.16). Pelo fato de o amor ser a essência de Deus, e devido a sua imutabilidade (Tiago 1.17), o amor Dele para conosco não aumenta nem diminui de acordo com nossos atos positivos ou negativos. A má compreensão desta verdade bíblica leva ao legalismo, a falsa santidade, a hipocrisia e a outras coisas tão comuns no meio cristão.



Certa vez recebi no meu gabinete um individuo que alegou ser ele o único na igreja que adorava a Deus em Espírito e em verdade. Quando perguntei a ele, o que lhe dava tanta certeza para fazer tal afirmação, ele respondeu-me: - “Pastor eu sou o único que não falto nos cultos, não falto na Escola Dominical, não falto no Estudo Bíblico e nem nas reuniões de orações! Repliquei: - “Pois é irmão, adorar a Deus em Espírito e em verdade, é exatamente o oposto do que você vem fazendo, é adorá-lo sem depender de “morar” na igreja, é ser livre para adorar a DEUS sem estar preso a estruturas, a este ou aquele lugar! É reconhecer-se pecador, é ter o mesmo sentimento de esvaziamento que houve em Cristo Jesus, a humildade!



A partir de então, passei a observar mais tal irmão, e notei que ele vivia olhando as falhas dos outros, sempre diminuindo a alguém e se exaltando, julgava-se o mais espiritual de toda a comunidade. Apesar de todos os esforços de minha parte, dos estudos a ele aplicados, das orações, dos aconselhamentos, o “santo irmão” passou a visitar outras igrejas onde dizia ter “fogo”, até que resolveu sair da igreja, alegando que não precisava de pastor, pois DEUS falava diretamente com ele a ponto de ter-lhe mostrado a Face. Saiu, mas não sem antes querer levar a igreja na justiça querendo direitos trabalhistas, depois de morar por quase quatro anos no pátio da igreja e ajudar a esposa dele nas faxinas aos sábados. Este é um dos extremos da má compreensão da Graça, por outro lado, há os que vivem uma vida de permissividade vivendo de forma dissoluta, apoiando-se na sua má interpretação da graça.



A má compreensão da graça provoca distúrbios na vida do individuo e da comunidade, tirando a paz e trazendo medos, fobia, manias estranhas, seus resultados ao invés de produzirem liberdade, humildade e equilíbrio, levam ao legalismo, fanatismo e a libertinagem. Precisamos pregar a graça de Deus manifesta em Cristo Jesus, mas acima de tudo precisamos tomar posse e viver as conseqüências dela advinda. Penso que uma pessoa que compreendeu ao menos um pouco da graça de DEUS, sabe que seu lugar não é no trono, mas sim aos pés da cruz de Cristo, prostrado clamando: Senhor por tua infinita graça perdoa todas as minhas faltas...



Brennan Manning, autor do clássico: O Evangelho Maltrapilho, é para mim dentre os cristãos contemporâneos alguém que conseguiu definir claramente estas palavras de Paulo em Efésios 2.8: "Com efeito, é pela graça que sois salvos por meio da fé; e isso não depende de vós, é dom de DEUS. Isto não vem das obras, para que ninguém se orgulhe". Clic neste link: http://brasilmetodista.ning.com/video/voce-cre-que-ele-te-ama assista o vídeo de Brennan Mnning, deixe o Espírito Santo convencê-lo/la do amor de DEUS e viva em paz consigo mesmo na total dependência da GRAÇA.

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