28 julho, 2010

Novamente no Haiti

Por Daniel Schorn
Graça e paz do Senhor Jesus sobre a vida de todos...



Resolvi compartilhar com vocês a experiência que estamos tendo com o envio de um de nossos queridos irmãos ao Haiti. Ele se chama Juliano Morais e está há três dias em Porto Príncipe. O fato dele estar no pôs lá também. Não tenho conseguido pensar muito em outra coisa nos últimos dias. Ele saiu muito feliz aqui de Chapadão do Céu, mas havia passado mal naquela noite. A família está preocupada e até angustiada, mas ninguém se opôs a ida dele para lá.




Bem, eu queria que vocês soubessem para que pudessem orar também. Para que se sentissem parte disso também. Receber notícias vindas diretamente de lá causa um impacto um pouco diferente do que simplesmente ver na televisão. Aliás, a mídia praticamente já esqueceu do Haiti. As fotos trágicas que venderam jornal já cumpriram seu papel. As pessoas já disseram: “Puxa, que pena!” Daqui para frente a tendência é que a ajuda diminua e que os sobreviventes sejam abandonados à miséria. Nesse caso também vale a historieta do pássaro que queria apagar o incêndio da floresta carregando água no bico: é melhor fazer um pouco do que nada fazer.



O Juliano está com a segunda equipe da JOCUM Brasil. Eles estão acampados em um orfanato próximo à sede do governo, aquela que parece a imitação da Casa Branca. A primeira equipe esteve acampada na laje de um prédio da polícia, também ali próximo. Estão a céu aberto. Não sabem direito o que vão fazer quando começar a chover (o que pode acontecer a qualquer hora), pois o período das chuvas costuma fazer-se acompanhar de tempestades tropicais. O Juliano tem uma barraca, menos mau. Não tem água para tomar banho e pouca para beber. O Juliano me disse que o cheiro ali onde estão é muito forte. Há um imenso campo de refugiados bem ao lado. Mas o cheiro não é de cadáveres: é uma mistura de falta de sistema de esgoto, sujeira de escombros e uma multidão sem banho. Ontem passaram o dia cavando valas para canalizar esgoto. Falei com ele pelo skype e como ele tinha uma web-cam pude ver que estava exausto. Estão dando atendimento médico emergencial (curativos, medicação básica), mas também ajudaram a fazer partos. Há muitas crianças, muitas órfãs, e elas pedem comida... Atenderam uma criança gravemente ferida, não pelo terremoto, mas por estupro posterior. Ontem o Juliano testemunhou um saque a um caminhão de mantimentos preso no trânsito na frente deles. Contudo, a violência, de maneira geral, está mais limitada ao desespero por comida. De modo geral o povo é amistoso e agradecido pela ajuda que recebem. Fora o serviço braçal que fazem, os missionários reúnem as crianças para jogar futebol e procuram falar de Jesus. Os haitianos amam o Brasil e o futebol brasileiro, o que dá aos missionários brasileiros um respeito e carinho muito grande. Eles andam com camisas da seleção brasileira para evitar hostilidades (e funciona!). Há grandes cultos sendo realizados em frente à sede do governo. Pastores locais falam em dar a sua vida para ver seu país reconstruído sobre o alicerce da Palavra de Deus. Às noites muita gente fica circulando pela cidade. Alguns invocando seus mortos. Outros o fazem para agradecer que estão vivos. O Juliano relatou que no dia em que chegaram, a terra voltou a tremer. Há um temor muito grande nesse sentido.



Também me relatou ontem que as pessoas estão precisando ser abraçadas. As equipes de salvamento e de ajuda humanitária não se aproximam das pessoas. Os missionários estão tentando distribuir carinho. As missionárias estão pegando as crianças no colo. Claro, acontece o inevitável: apego... A sensação de impotência é terrível diante de tanta dor. Mas um abraço pode dizer: “Ainda existe amor para além dessa tragédia. Tenha esperança! Jesus te ama!”



Os relatos são abundantes e não tenho como transcrevê-los aqui. Mais informações estão sendo postadas num blog: http://beagablog.blogspot.com/ . Por enquanto, as fotos que há lá são da primeira equipe, de cerca de duas semanas atrás. Há apenas uma foto da segunda equipe postada à direita da tela. Mas dá para ter uma noção do que está sendo feito e que a segunda equipe continuará a fazer.



Abraço a todos,



P. Daniel Schorn

IECLB de Chapadão do Céu-GO

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