12 março, 2010

Pastores II


por Luciano Gazola
Semaninha esquisita essa para o cristianismo. Ontem quem leu os jornais ou assistiu, seja o escrito ou televisionado se deparou com situações que coram a cara de quem ama o Evangelho. Pastores presos por trafico de armas, padres e “mon senhores” envolvidos escandalosamente em pedofilia, assessores papais sobre suspeita. O que dizer de tudo isso?

Enfrentamos um sério problema cultural que precisa ser superado em nossa sociedade. O saber lidar com a crítica e o saber criticar. Teríamos profissionais bem mais competentes se soubéssemos aprender com as críticas ou usar da crítica construtiva para mudar a direção de nossos erros. A maioria das pessoas não sabe receber uma crítica nem tão pouco fazer críticas que apontem uma direção correta.


Vou me limitar ao cristianismo e seus bilhões de praticantes. Devemos sim ser mais críticos em relação à Igreja, não para desprezá-la mas para dar a ela o valor que de fato ela tem dentro do Reino de Deus. Quando Marx criticou o cristianismo dizendo ser a religião o ópio do povo de fato em muitos aspectos ele tinha razão e ainda teria hoje. Toda vez que a religião paralisa, enfeitiça, impede de pensar de analisar, ela passa de remédio para ópio em uma velocidade impressionante. Por isso precisamos pensar e saber que pensar e criticar não é pecado! É claro que todo criticado tem direito de dar respostas e de ser ouvido, mas o que não podemos é simplesmente aceitar que tudo que se diz ou se faz em nome de Deus esta certo.

Não vou criticar o catolicismo aqui abertamente em um artigo direcionado a todos os cleros por que creio que alguém de dentro dele pode fazê-lo melhor do que eu. Mas vou dar meu grito de indignação a algumas coisas dentro daquilo que defendo como religião que é o mundo evangélico, já que dele faço parte a mais de dez anos e “ainda” me orgulho disso por que creio estar fazendo parte do Reino de Deus dentro de uma igreja Evangélica.

Ha uns sete anos atrás fui a uma loja comprar, se não me engano, um jogo de sofás. Na hora de preencher o cadastro disse que era pastor evangélico e fui surpreendido pela possibilidade de não ter linha de crédito para mim. Tinha em mão declaração de imposto de renda, extratos bancários, endereço de moradia e pelo menos cinco lojas onde já tinha cadastro aberto. Uma hora depois meu crédito estava aberto, mas percebi claramente que o fato de ser pastor gerava algumas expectativas sobre minha pessoa.

Alguns anos depois eu e minha esposa trocamos de carro e financiamos parte dele em uma das maiores financiadoras de veículos do país, o rapaz que me atendeu sugeriu que eu colocasse minha profissão como vendedor autônomo, eu recusei. Ora já fui vendedor e não tenho nada contra ser, mas não sou! Disse que se não pudessem me financiar o carro como pastor então não financiaria. Eu conheço alguns pastores que vendem sal ungido, água ungida, viagem para Israel, martelo ungido e agora até lenço ungido, mas não é o meu caso, abomino tal prática, detesto os que vendem e tenho pena dos que compram, se bem que penso que quem compra essas frescuras evangélicas é tão culpado como quem vende por que se compra isso na esperança da prosperidade milagrosa é como jogar na loto, e olha eles dizem que jogar na loto que é pecado, é besteira, é burrice. Mas enfim acabei tendo que financiar o carro no nome de minha esposa por que ela como enfermeira tinha mais “moral social” do que eu. Pagamos com o meu salário de pastor, rs.

Mas por que isso?
De quem é a culpa deste estereótipo pastoral?

Não, não é da financiadora, certamente que não é fruto de preconceito como diriam alguns evangélicos nem perseguição do diabo, é tão somente estatística. Muitos pastores caloteiros construíram esse estereótipo em nosso cristianismo tupiniquim. Mas assim como nem todo padre é pedófilo nem todo pastor é caloteiro ou traficante de armas.

Li ontem aqui neste site sobre a prisão de 3 pastores armados até os dentes. Nem Pedro andava tão bem armado como eles! Eram credenciados em uma igreja do “Poder” em nossa nação. Poder do que? Só se for poder de fogo. Eu sei que o apóstolo vai dizer que nunca os viu e possivelmente nunca os tenha visto mesmo por que algumas igrejas no Brasil viraram franquias como o McDonald’s só que o McDonald’s paga imposto.

Lamento o que vejo mas não vou ficar de braços cruzados e calado, não dá.
Enquanto produzirmos apóstolos que constroem para si palácios de ouro, que compram jatinhos particulares, que vendem a fé; seremos meramente ópio e nunca Evangelho.
Enquanto gastarmos metade de nossos cultos oferecendo vitória comprada com envelopes de ouro, prata e bronze jamais estaremos preparados para as derrotas normais da vida.

Enquanto culparmos o diabo por tudo e termos medo de dizer abertamente que boa parte de nossos apóstolos televisionados são na verdade pilantras, veremos os templos cheios mas com vidas vazias.

Enquanto não tivermos a coragem de admitir que as doenças, a pobreza, a falta de educação não será vencida apenas com oração ou campanhas milagrosas, teremos uma nação doente.

Enquanto não soubermos admitir que a religião que grita e dá roupas novas aos homens nem sempre dá um novo homem às roupas velhas, seremos ópio e não remédio.
Enquanto milhares de pessoas se emocionam em cultos evangélicos cheios de mentiras e relíquias a venda, pessoas morem de fome e vão inferno bem embaixo do nariz da igreja.

Aos apóstolos fica a Palavra de Jesus ao Paulo, “esse saberá o quanto importa sofrer pelo meu nome”.
Enquanto nosso discurso for só verbo e não for carne não seremos completos por que o Verbo se fez carne!

Oxalá o povo evangélico acorde e perceba que ainda dá tempo de fazer alguma coisa.
Um grande abraço, Pastor Luciano Gazola com orgulho e certeza de que há muita gente boa no Reino.

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