por Marcos Soares
Eu sei o que você deve estar pensando, O Duda pirou, ele já postou esse texto, pois é irmão, mas o meu texto que você pode ler nesse link, Ensaio sobre a solidão não está repetindo-se.
Trata-se apenas de um texto homônimo, escrito por um grande cara, o Marcos Soares.
Conheci o irmão em um congresso em Coronel Vivida-PR no Emaús, quando ele foi preletor, isso já se vão quase 10 anos, desde então acompanho o site www.irmaos.com com sua saborosa colunet.
Recebo as atualizações da sua coluna e essa semana recebi essa excelente reflexão, e trouxe para nós aqui.
Uma foto do Marcos antes do texto:
Ensaio sobre a solidão.
Amigos, levante a mão quem nunca se sentiu sozinho. Podem abaixar. Vocês são um caso à parte. A maioria dos mortais tem seus momentos de solidão. Mesmo que vivamos cercados de milhões de pessoas, existem momentos (que podem se tornar fases) em que parece que estamos absolutamente sós. Não somente nadando contra a maré, mas abandonados mesmo. Você percebe a solidão. Ela se torna palpável. Perigosamente, você pode começar até a se acostumar a ela. Acaba virando um Robson Crusoé.
Não me refiro a sermos abandonados por Deus. Isto nunca pode acontecer, posto que seria uma negação da Sua promessa. Podemos, no entanto, ser abandonados pelas pessoas. Pessoas são cruéis. Pessoas cristãs podem ser ainda mais cruéis. A prática de usar e jogar fora é muito comum. Líderes pelo mundo afora, em todas as culturas, estilos e vertentes teológicas passam por isso. Você é tratado como um príncipe enquanto serve a determinados interesses, mas uma vez que os contrarie, poderá ser condenado ao calabouço.
Homens de grande envergadura, como o Apóstolo Paulo (esse apóstolo de verdade) passaram por isso. No fim de uma vida incomparável de serviços prestados, ele afirma a seu filho da fé, Timóteo: “Todos me abandonaram” (2 Tm 1:15; 2 Tm 4:16), foi a constatação em tom de lamento do grande guerreiro. Não sei quais foram os motivos que levaram seus ex-companheiros a fazer isso. Qualquer que tenha sido, tenha certeza de que não foi fácil mesmo para alguém como Paulo suportar aquela atitude. Só que já sentiu na pele o que significa ser posto de lado por alguém que lhe jura lealdade, mas que lhe abandona ao primeiro sinal de que alguma coisa mais interessante surgiu no horizonte, ainda que distante e irreal. É duro pensar que para alguns você não serve mais, não é mais útil ao sistema, não interessa mais para o projeto. Te amassam como se faz a uma bolinha de papel e pimba... Lixo nele.
O que dizer de Elias e João Batista? Não concordo muito com a tese psicanalítica que entende Elias e João Batista como “depressivos”. Não vejo base para afirmarmos que eles estavam deprimidos, pelo menos da forma como definimos depressão hoje em dia. Estavam cansados, confusos, com medo, em dúvida e especialmente, sentiam-se sozinhos. Certo que a solidão e o isolamento podem ser marcas de depressão, mas não vejo porque tenhamos que concluir isto a respeito desses homens. Foram simplesmente deixados sozinhos. Em ambos os casos, é intrigante ver o que Deus fez. Para Elias, Deus mostrou que havia outros sete mil que não tinham dobrado seus joelhos a Baal. Porém, onde estavam eles? Por que não se manifestavam? Por que não davam a cara a tapa? Por que deixaram que toda a evidência de fé em Israel, com todas as suas implicações diante de Jezabel, caísse sobre os ombros de um só? Talvez seja pelo mesmo motivo que hoje abandonamos nossos líderes e as pessoas que querem um avivamento na fé e na prática. Muita gente quer fazer a diferença, mas não quer pagar o preço por isso nem se expor em sua caminhada. Ficam entocados, torcendo até, mas sem envolvimento nenhum. Isso faz com que o profeta desanime, sinta-se solitário e pense em abrir mão de tudo. Sempre será mais fácil ser parte dos sete mil que ficam trancados em casa do que ser o Elias que põe o pescoço a prêmio e vai enfrentar o Carmelo.
Pense no caso de João Batista. O maior homem nascido de mulher, segundo a avaliação do Mestre Jesus. Veio como arauto do Rei mais importante. Voz que clamou no deserto para preparar o caminho do Senhor. Missão única, extraordinária. Soube a hora certa de sair de cena. Mas de uma hora para a outra, por dizer a verdade, vai para o cárcere. Como não sentir-se só?
Não sou Elias, nem João Batista, nem muito menos Paulo. Nenhum de nós poderia se comparar a estes homens, se bem que em tese temos todos o mesmo potencial, para bem ou para mal. Tenho a sensação de que ficar a sós não é completamente ruim. Melhores momentos de reflexão, melhores e mais acertadas decisões, melhor produtividade acontece em tempos de solidão. Temos mais tempo para pensar, para agir com sobriedade, para não dizer coisas das quais depois nos arrependemos. Penso que nos falta, até como exercício, praticar a solidão deliberada. E talvez por este motivo, em alguns momentos Deus mesmo nos leva à solidão de um deserto inexplicável, para que ali nos encontremos, não apenas conosco mesmos, mas com Ele em especial. Tais desertos são costumeiramente desconfortáveis. Nunca estive pessoalmente em um deserto, mas imagino que seja angustiante, especialmente quando caímos nele sem esperar. Estive em outros tipos de desertos pelos quais a vida me levou (se Deus me levou, não sei; pelo menos tenho certeza de que ele permitiu) e posso garantir que não são agradáveis. Às vezes duram semanas; outras vezes duram meses; pior quando duram anos ou décadas. Gostaria de dizer que sempre saímos dele melhores do que entramos, mas ainda precisaria sair de um para lhe contar a história.
Os profetas e juizes do Velho Testamento, lembro-me agora, quase sempre foram homens solitários. Não eram populares, mesmo porque não defendiam teses fáceis. Não comiam pela mão dos outros. Não repetiam frases feitas, só porque que eram bonitas, politicamente corretas ou porque elas agradavam os figurões. Isso os isolava dos demais, que não eram obrigados a pensar da mesma forma nem a se envolverem no mesmo estilo de vida. Pouca gente se interessava em andar com eles.
Entendo, ainda, existir uma espécie de solidão da busca da utopia. Você acredita, ainda que todos em volta digam o contrário, que é possível. Para você, não é utopia. Para o resto do mundo, é. Quem tem razão? Até que se descubra isso, a tendência é que você seja uma ilha de esperança rodeada por um mar de apatia. Quem já se sentiu assim, levanta a mão. Podem abaixar. Tenho conversado com muita gente que se sente abatida, frustrada, machucada e desanimada por terem que enfrentar este tipo de solidão. Ou eles crêem demais ou os outros crêem de menos.
Finalmente, há pelo menos uma coisa boa sobre os tempos de solidão: Deus nos brinda com novos amigos ou nessas fases. Alguns, você não os descobriria de outra forma. Estavam escondidos nas cavernas do anonimato. De repente, vem à tona quando menos se esperava. Aparecem com uma palavra de Deus nos lábios, com uma declaração profética (no sentido correto desta expressão), com uma sugestão de caminho, com uma visão por outro ângulo. Além disso, o dia revela também que alguns a quem você considerava não eram tão amigos assim. Eram mariposas, que de manhã voam alegres e à tardinha secam-se com o calor.
Que saibamos enfrentar com dignidade os desertos de solidão.
Que tenhamos a graça de resistir e atravessá-los.
Que eles sejam nem tão breves que não deixem suas marcas em nós, nem tão longos que nos tirem do palco para sempre.
Que nos levem mais perto de Deus, nunca para mais longe.
Que seus resultados sejam eternos.
Que o Senhor seja glorificado, seja em nosso deserto, seja no meio da multidão.
Amém!
***
Link original na colunet: Ensaio sobre a solidão.
Trata-se apenas de um texto homônimo, escrito por um grande cara, o Marcos Soares.
Conheci o irmão em um congresso em Coronel Vivida-PR no Emaús, quando ele foi preletor, isso já se vão quase 10 anos, desde então acompanho o site www.irmaos.com com sua saborosa colunet.
Recebo as atualizações da sua coluna e essa semana recebi essa excelente reflexão, e trouxe para nós aqui.
Uma foto do Marcos antes do texto:
Ensaio sobre a solidão.
Amigos, levante a mão quem nunca se sentiu sozinho. Podem abaixar. Vocês são um caso à parte. A maioria dos mortais tem seus momentos de solidão. Mesmo que vivamos cercados de milhões de pessoas, existem momentos (que podem se tornar fases) em que parece que estamos absolutamente sós. Não somente nadando contra a maré, mas abandonados mesmo. Você percebe a solidão. Ela se torna palpável. Perigosamente, você pode começar até a se acostumar a ela. Acaba virando um Robson Crusoé.
Não me refiro a sermos abandonados por Deus. Isto nunca pode acontecer, posto que seria uma negação da Sua promessa. Podemos, no entanto, ser abandonados pelas pessoas. Pessoas são cruéis. Pessoas cristãs podem ser ainda mais cruéis. A prática de usar e jogar fora é muito comum. Líderes pelo mundo afora, em todas as culturas, estilos e vertentes teológicas passam por isso. Você é tratado como um príncipe enquanto serve a determinados interesses, mas uma vez que os contrarie, poderá ser condenado ao calabouço.
Homens de grande envergadura, como o Apóstolo Paulo (esse apóstolo de verdade) passaram por isso. No fim de uma vida incomparável de serviços prestados, ele afirma a seu filho da fé, Timóteo: “Todos me abandonaram” (2 Tm 1:15; 2 Tm 4:16), foi a constatação em tom de lamento do grande guerreiro. Não sei quais foram os motivos que levaram seus ex-companheiros a fazer isso. Qualquer que tenha sido, tenha certeza de que não foi fácil mesmo para alguém como Paulo suportar aquela atitude. Só que já sentiu na pele o que significa ser posto de lado por alguém que lhe jura lealdade, mas que lhe abandona ao primeiro sinal de que alguma coisa mais interessante surgiu no horizonte, ainda que distante e irreal. É duro pensar que para alguns você não serve mais, não é mais útil ao sistema, não interessa mais para o projeto. Te amassam como se faz a uma bolinha de papel e pimba... Lixo nele.
O que dizer de Elias e João Batista? Não concordo muito com a tese psicanalítica que entende Elias e João Batista como “depressivos”. Não vejo base para afirmarmos que eles estavam deprimidos, pelo menos da forma como definimos depressão hoje em dia. Estavam cansados, confusos, com medo, em dúvida e especialmente, sentiam-se sozinhos. Certo que a solidão e o isolamento podem ser marcas de depressão, mas não vejo porque tenhamos que concluir isto a respeito desses homens. Foram simplesmente deixados sozinhos. Em ambos os casos, é intrigante ver o que Deus fez. Para Elias, Deus mostrou que havia outros sete mil que não tinham dobrado seus joelhos a Baal. Porém, onde estavam eles? Por que não se manifestavam? Por que não davam a cara a tapa? Por que deixaram que toda a evidência de fé em Israel, com todas as suas implicações diante de Jezabel, caísse sobre os ombros de um só? Talvez seja pelo mesmo motivo que hoje abandonamos nossos líderes e as pessoas que querem um avivamento na fé e na prática. Muita gente quer fazer a diferença, mas não quer pagar o preço por isso nem se expor em sua caminhada. Ficam entocados, torcendo até, mas sem envolvimento nenhum. Isso faz com que o profeta desanime, sinta-se solitário e pense em abrir mão de tudo. Sempre será mais fácil ser parte dos sete mil que ficam trancados em casa do que ser o Elias que põe o pescoço a prêmio e vai enfrentar o Carmelo.
Pense no caso de João Batista. O maior homem nascido de mulher, segundo a avaliação do Mestre Jesus. Veio como arauto do Rei mais importante. Voz que clamou no deserto para preparar o caminho do Senhor. Missão única, extraordinária. Soube a hora certa de sair de cena. Mas de uma hora para a outra, por dizer a verdade, vai para o cárcere. Como não sentir-se só?
Não sou Elias, nem João Batista, nem muito menos Paulo. Nenhum de nós poderia se comparar a estes homens, se bem que em tese temos todos o mesmo potencial, para bem ou para mal. Tenho a sensação de que ficar a sós não é completamente ruim. Melhores momentos de reflexão, melhores e mais acertadas decisões, melhor produtividade acontece em tempos de solidão. Temos mais tempo para pensar, para agir com sobriedade, para não dizer coisas das quais depois nos arrependemos. Penso que nos falta, até como exercício, praticar a solidão deliberada. E talvez por este motivo, em alguns momentos Deus mesmo nos leva à solidão de um deserto inexplicável, para que ali nos encontremos, não apenas conosco mesmos, mas com Ele em especial. Tais desertos são costumeiramente desconfortáveis. Nunca estive pessoalmente em um deserto, mas imagino que seja angustiante, especialmente quando caímos nele sem esperar. Estive em outros tipos de desertos pelos quais a vida me levou (se Deus me levou, não sei; pelo menos tenho certeza de que ele permitiu) e posso garantir que não são agradáveis. Às vezes duram semanas; outras vezes duram meses; pior quando duram anos ou décadas. Gostaria de dizer que sempre saímos dele melhores do que entramos, mas ainda precisaria sair de um para lhe contar a história.
Os profetas e juizes do Velho Testamento, lembro-me agora, quase sempre foram homens solitários. Não eram populares, mesmo porque não defendiam teses fáceis. Não comiam pela mão dos outros. Não repetiam frases feitas, só porque que eram bonitas, politicamente corretas ou porque elas agradavam os figurões. Isso os isolava dos demais, que não eram obrigados a pensar da mesma forma nem a se envolverem no mesmo estilo de vida. Pouca gente se interessava em andar com eles.
Entendo, ainda, existir uma espécie de solidão da busca da utopia. Você acredita, ainda que todos em volta digam o contrário, que é possível. Para você, não é utopia. Para o resto do mundo, é. Quem tem razão? Até que se descubra isso, a tendência é que você seja uma ilha de esperança rodeada por um mar de apatia. Quem já se sentiu assim, levanta a mão. Podem abaixar. Tenho conversado com muita gente que se sente abatida, frustrada, machucada e desanimada por terem que enfrentar este tipo de solidão. Ou eles crêem demais ou os outros crêem de menos.
Finalmente, há pelo menos uma coisa boa sobre os tempos de solidão: Deus nos brinda com novos amigos ou nessas fases. Alguns, você não os descobriria de outra forma. Estavam escondidos nas cavernas do anonimato. De repente, vem à tona quando menos se esperava. Aparecem com uma palavra de Deus nos lábios, com uma declaração profética (no sentido correto desta expressão), com uma sugestão de caminho, com uma visão por outro ângulo. Além disso, o dia revela também que alguns a quem você considerava não eram tão amigos assim. Eram mariposas, que de manhã voam alegres e à tardinha secam-se com o calor.
Que saibamos enfrentar com dignidade os desertos de solidão.
Que tenhamos a graça de resistir e atravessá-los.
Que eles sejam nem tão breves que não deixem suas marcas em nós, nem tão longos que nos tirem do palco para sempre.
Que nos levem mais perto de Deus, nunca para mais longe.
Que seus resultados sejam eternos.
Que o Senhor seja glorificado, seja em nosso deserto, seja no meio da multidão.
Amém!
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Link original na colunet: Ensaio sobre a solidão.
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