30 março, 2010

Palavras

por Ricardo Gondim

Palavras são meninas fugidias, andorinhas no crespúsculo de minha existência. Palavras são anjos que riscam minhas trevas com o giz da beleza. No texto impreciso, iluminam o que este autor gostaria de ter dito.

Palavras ainda invertebradas, escapam à sedução do poeta. Contraditoriamente, são minhas servas fieis, pois sabem que serão gastas, apagadas e muitas vezes descartadas. Imprecisas, palavras desafiam os caixilhos da minha literalidade.
Palavras são musas que amam compor minhas metáforas; às vezes, amigas crueis, nunca disponíveis quando quero desvendar a alma.

Palavras são teimosas. Altivas, resistem aos meus apertos e só se deixam dominar quando cortejadas e amadas. Surdas para meus galanteios afobados, cedem aos sussurros quando me atrevo a escrever com vagar. Amontoadas em frases longas, esgotam-se e morrem na ponta dos meus dedos.

Palavras expressam um pedacinho da vida quando percebem que procuro o pulsar ritmico da poesia. Deliciam-se quando me ajudam a dar forma a sentimentos informes, sensações inexatas e imaginações alvoroçadas.

Palavras são minhas parceiras humildes. Sem dar conta, aceitam jazer esquecidas nos livros que nunca seráo escritos, nas cartas íntimas e nos poemas esquecidos.

Ando crescentemente enamorado das palavras. Aprendo a cortejar os substantivos e a abraçar os adjetivos. Quero fecundar o texto com verbos criativos. Desejo gerar filhos que sobrevivam aos meus anseios de imortalidade. Se, incapaz de uma obra prima, minhas poucas palavras celebram o meu fascínio de viver.

Um comentário:

Eduardo Gazola disse...

Engraçado como as vezes o simples ato de escrever acalma o coração.

Mesmo que seja somente botar pra fora o que estava na cabeça ou coração, isso já basta ...

As palavras ...