17 janeiro, 2013

O Netinho - David Coimbra


O netinho - por David Coimbra

Ninguém entendeu por que Gonzalo desistiu da herança da avó e largou o bom emprego que tinha e sumiu da cidade, sem destino, andarilho vagabundo. 
Eu entendi. 
Verdade que não se tratava de herança importante, nenhuma fortuna, mas os outros netos lutaram feito hienas famintas por ela. E, de todos, Gonzalo era quem tinha mais direito. Sobretudo ao apartamento. 
Gonzalo morou naquele apartamento a vida toda, ele e a avó, só os dois. A mãe, depois de separada, não podia sustentar os três filhos, então, mal Gonzalo nasceu, foi deixado aos cuidados da avó. Que não reclamou. 
Ao contrário, Gonzalo tornou-se a razão da sua vida. Fazia tudo por ele. Como geralmente acontece com os avós, ela o amava com uma doçura jamais dedicada a um filho. Gonzalo cresceu em meio aos mimos da avó, tinha chazinho quente quando adoecia, tinha comidinhas especiais todos os dias. Dela, ele merecia tudo, embora tudo que ela pudesse dar não fosse muito. A avó vivia da pensão de viúva que recebia de um montepio. 
Com aquele dinheirinho contado, sustentou o neto, pagou-lhe a faculdade e, mesmo depois de ele estar trabalhando, comprava-lhe meias de lã para o inverno e biscoitos recheados para o lanche da tarde. 
Conheci a velhinha. 
Era gordinha e pequena, em tudo redonda. Uma avó de história em quadrinhos, uma perfeita Dona Benta, sempre sorrindo atrás dos óculos, sempre mexendo uma panela na cozinha, especialista em quitutes e histórias do tempo em que as moças coravam e os moços faziam mesuras. 
Gonzalo gostava dela, claro que gostava, mas nunca chegou a ser um neto afetuoso. Recebia os carinhos da velha com a indiferença típica da juventude. Convertido em um espigado rapagão, continuava vivendo com a avó, e ela continuava a cumular-lhe de atenções, apesar de já estar bastante doente. Volta e meia, o ar lhe faltava e ela se sentia nas vascas da morte, os pulmões ameaçando explodir. Decidiu precaver-se. Temendo um dia ter de internar-se com urgência no hospital, passou a economizar para pagar o médico. Todos os meses, retirava um naco da pensão, fazia um canudinho com um atílio e guardava num compartimento que havia na parte de cima do roupeiro. 
Gonzalo não prestava muita atenção nos males da avó. Não tinha tempo. Trabalhava de dia, estudava de noite e nos finais de semana ia para a casa da namorada. Não percebia que a velhinha piorava a cada semana. Uma noite, ela estava especialmente mal, e nem assim Gonzalo reparou. Chegou em casa perto da meia-noite, cansado e de mau humor. A velhinha ouviu o barulho na fechadura da porta, levantou-se com alguma dificuldade, arrastou-se até a cozinha e preparou um jantar quente para o neto. Levou o prato fumegante e um copo de suco de laranja até o quarto, onde ele dormia de roupa e tudo, as costas apoiadas na cabeceira da cama. Acordou-o com um beijo. Ele abriu os olhos, viu a comida e, sem dizer palavra, tomou o prato e começou a comer. Ela sorriu e lhe deu boa-noite. Gonzalo nem respondeu. Estava mastigando. 
Aquela noite, a velhinha não dormiu. A falta de ar a sufocava angustiantemente. Pela manhã, chegou a pensar em não preparar o café para o neto. Nunca, em 20 anos, deixara de lhe fazer café. Não queria decepcioná-lo, não nesses dias em que ele trabalhava e estudava tanto. Levou 10 minutos parar erguer-se da cama, arrastou-se pelo corredor e foi para a cozinha. Quando Gonzalo saiu do banho, o café estava na mesa. Mas a velhinha se sentia arrasada. Pediu: 
– Meu amor, não vai trabalhar hoje. 
Fica um pouco com a vó... 
Gonzalo riu: 
– Ih, não dá. Estou cheio de trabalho. 
– Só um pouquinho. Liga pra eles... 
– Não dá, vó. Não dá. Até estou atrasado. 
Tchau. 
Fui. 
Foi. 
Saiu sem nem escovar os dentes. Voltou às onze da noite, cansado, como sempre. Encontrou a avó caída num canto do quarto, no chão, ao lado do banquinho no qual ela subia para alcançar o topo do roupeiro. Na mão direita, a trouxinha de dinheiro que ela guardara para pagar o hospital. Morrera sozinha, sufocada, decerto pensando no neto, decerto chamando por ele. 
Depois do enterro, os irmãos disseram que Gonzalo podia continuar morando no apartamento. Ele não quis. Foi embora, ninguém sabe para onde. Largou tudo, ninguém sabe por que. Eu sei.

04 janeiro, 2013

Quem foi o Discípulo amado e autor do quarto Evangelho?


A BÍBLIA NÃO DIZ QUE JOÃO FOI O AUTOR DO QUARTO EVANGELHO


Durante anos li os mais importantes comen­tários que existem a respeito do Evangelho de João. 

Até hoje, honestamente falando, nenhum ­deles apresentou qualquer evidência interna de que o Quarto Evangelho foi escrito por João. 

Os maiores doutores em Teologia e Litera­tura, simplesmente usam o chamado "argumento ­de autoridade", para dizerem: "Não há sombra dúvidas que o quarto evangelho foi escrito pelo apóstolo João." 

Citam a tradição oral e as deduções puramente lógicas e teológicas, mas se esquecem do prin­cipal: o próprio texto bíblico. 

Todos os grandes estudiosos do grego sabem que o quarto Evangelho foi escrito em uma lingua­gem muito erudita e escorreita, incompatível com a cultura de um simples pescador como o era João. 

Existe um consenso entre muitos estudio­sos da BÍBLIA que o "discípulo amado" de Jesus ­seria o apóstolo João. 

Muitos deles afirmam ser João tal apósto­lo, porque é como se ele usasse tal expressão por motivo de modéstia. 

Analisando mais detidamente o Evangelho de João, podemos inferir ser outro e não João, o discípulo por quem Jesus demonstrava um amor tão especial. 

No quarto Evangelho, Capítulo 11, Versículos 3 e 5, lemos: "Mandaram-lhe pois suas irmãs dizer: Senhor, eis que está enfermo AQUE­LE QUE TU AMAS. Ora, Jesus AMAVA a Mar­ta, e a sua irmã e A LÁZARO." 

Eis, pois, declarado, quem era o discípulo a quem Jesus amava: Lázaro. 

Não existe qualquer evidência interna ou externa que nos impeça de acreditar que Lázaro tam­bém estava assentado ao lado de Jesus durante a última Páscoa. 

A BÍBLIA diz no Capítulo 12 do quarto Evangelho que Jesus assentou-se à mesa com os doze, mas silencia a respeito de quem mais estaria com ele. 

Será que os discípulos e irmãs que acompa­nhavam Jesus, inclusive ajudando o seu ministério com seus próprios bens, deixariam de ser convida­dos para tão importante acontecimento? 

No relato desse evento, lemos: "Ora um de seus discípulos, AQUELE A QUEM JESUS AMA­VA, estava reclinado no seio de Jesus." 

Observamos que o evangelista não falou "apóstolo", mas "discípulo". 

É claro que, pelo contexto e por todas as evidências internas era Lázaro o discípulo a quem Jesus amava de uma forma especial. 

Tenho certeza que foi ele que se reclinou junto a Jesus e, sendo um confidente do Senhor, perguntou: "Senhor, quem há de te trair?" 

No quarto Evangelho 18:15 lemos: "E Si­mão Pedro e outro discípulo seguiam a Jesus. E este discípulo era conhecido do sumo sacerdote, e entrou com Jesus na sala do sumo sacerdote." 

João era um simples pescador do Mar da Galiléia, enquanto Lázaro era aparentemente um homem de grande importância, respeitado pelos judeus, conforme o quarto Evangelho 11: 19,31,33,36,45: 

"E muitos dos judeus tinham ido consolar a Marta e a Maria, acerca do seu irmão. 

"Vendo pois os judeus, que estavam com ela em casa e a consolavam, que Maria apressada­mente se levantara e saíra, seguiram-na, dizendo: 

Vai ao sepulcro para chorar ali. 

"Disseram pois os judeus: VEDE COMO O AMAVA! 

"Muitos pois dentre os judeus, que tinham vindo a Maria, e que tinham visto o que Jesus fize­ra, creram nele." 

Será que era João o amigo do sumo sacer­dote que permitiu a entrada de Pedro na própria casa daquele, ficando no pátio? 

Um simples pescador, seguidor de Jesus, tinha assim tal amizade com a suprema autoridade do povo judeu? 

Não é muito mais lógico inferir que o ami­go do sumo sacerdote era alguém da sua classe, al­guém que, ao morrer, teve a visita deles, porque pertencia à alta sociedade dos judeus? 

Veja o que diz a BÍBLIA sobre o conceito de que ele gozava: 

"Muitos dentre os judeus tinham vindo ter com Marta e Maria, para as consolar a respeito de seu irmão." (IV Evangelho 11: 19). 

É claro que alguns dos principais sacerdotes posteriormente pensaram até em matar Lázaro, mas só não o fizeram por causa do seu grande prestígio e amizade que tinha com o sumo sacerdote. (IV Evangelho 12:10). 

Quando Jesus estava na cruz, encontramos outro relato que se refere ao discípulo "A QUEM ELE AMAVA". Leiamo-lo: 

"Ora Jesus, vendo ali sua mãe e que O DIS­CÍPULO A QUEM ELE AMAVA estava presen­te, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. De­pois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa." (Quarto Evangelho 19 :26,27). 

A quem Jesus confiaria o cuidado de sua mãe? Confiaria a um apóstolo que recebeu a incumbência de ir por todo o mundo, ou de ir a todas as nações, conforme os relatos de Marcos e de Mateus, ou a um homem de vida sedentária como era Lázaro, o qual tinha uma casa estabelecida em Betânia. 

A quem Jesus confiaria sua mãe? A João, que seria deportado para a ilha chamada Patmos onde ficaria em situação instável, ou a Lázaro que tinha uma situação financeira estável? 

Se a BÍBLIA diz claramente que os discí­pulos mais chegados de Jesus, os apóstolos, fugi­ram, como João estaria ali perto da cruz? 

Não é muito mais evidente que quem esta­va perto da cruz era aquele que devia a vida a Jesus duas vezes? 

No relato da ressurreição, no Capítulo 20 do quarto Evangelho, novamente encontramos a referência ao "outro discípulo A QUEM JESUS AMAVA". (v.2). 

Pedro entrou primeiro no sepulcro e ficou observando os lençóis e o lenço que tinha estado sobre a cabeça de Jesus. 

Quando o outro discípulo entrou, ele VIU E CREU (v.8). Por que? Quem mais estava tão fa­miliarizado com aquele portentoso milagre de ressurreição, a não ser o próprio Lázaro, que fora res­suscitado também? 

No final do quarto Evangelho, descobri­mos algo que traz mais provas a respeito de Lázaro ser o "discípulo amado" e não João: Vejamos: 

"E Pedro, voltando-se, viu que o seguia AQUELE DISCÍPULO A QUEM JESUS AMA­VA e que na ceia se recostara também sobre o seu peito, e que dissera: Senhor, quem é o traidor? Ven­do-o, pois, Pedro perguntou a Jesus: E quanto a este? Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu. 

"Divulgou-se pois entre os irmãos este dito, que aquele discípulo NÃO HAVIA DE MOR­RER..." (Quarto Evangelho 21:20-23). 

A respeito de quem poderia ser divulgado tal dito de que não haveria de morrer? A respeito de João, sem qualquer conotação especial para isto, ou a respeito de Lázaro que havia morrido e que tinha sido RESSUSCITADO?! 

Depois de todas estas considerações, pode­mos ainda inferir algo mais tremendo ainda. 

O evangelho de Marcos foi escrito por alguém que não pertencia ao chamado "colégio apostólico". O mesmo sucede com Lucas. O evangelho atribuído a João não poderia ter tido o mesmo destino? 

Em nenhum lugar do evangelho é citado o nome do apóstolo João. Aliás, em nenhum versículo do quarto Evangelho encontramos o ter­mo "apóstolo". Não seria uma evidência de que o escritor foi um discípulo daqueles que seguiam ao Mestre e não um dos doze? 

A única evidência interna apresentada por doutos exegetas a respeito da autoria de João é o versículo 24 do Capítulo 21: "Este é o discípulo que testifica destas coisas." Este quem? 

Não poderia e não existe toda a possibili­dade de ter sido Lázaro o autor do quarto Evange­lho? É claro que sim. E que importância teria tal descoberta? Simples e unicamente o desejo de co­nhecer cada vez mais e melhor o texto sagrado, nossa única regra de fé e de prática. 

Agora, aproveitando o mesmo tema, vamos ver mais dois casos de autoria: 

Existe um consenso entre os exegetas mais ortodoxos que o livro de Deuteronômio foi escrito parte por Moisés, parte por alguém mais, provavel­mente Josué, pois a descrição da morte e sepultamen­to de Moisés não podia ser escrita por ele mesmo. 

No primeiro versículo de Deuteronômio, porém, a idéia que parece mais aceitável é que o livro foi todo escrito por outra pessoa, ou por ou­tras pessoas, pois fica muito claro e estabelecido que Moisés não escreveu qualquer palavra do livro. 

Por quê? 

Vejamos: "São estas as palavras que Moisés falou a todo o Israel, DALÉM DO JORDÃO, no deserto .. " (Deuteronômio 1: 1). 

A expressão "dalém" dá a clara idéia de que a pessoa que a escreveu estava "aquém" do Jordão. 

Como Moisés jamais atravessou o Jordão,pois Deus o proibira, o livro foi escrito AQUÉM do Jordão a respeito de Moisés, que falara DALÉM do Jordão. 

Ora, se a pessoa está falando a respeito de alguém que está do lado de lá e nós sabemos que ele jamais atravessou para o lado de cá, podemos estabelecer que o livro foi escrito a respeito de Moisés e de seus discursos e não por ele próprio. 

Outro interessante caso de autoria está no Salmo 72: 

Nas Bíblias, Corrigida, Atualizada, Revisa­da e Contemporânea, no título do Salmo lemos: 

"Salmo de Salomão." 

O Salmo inteiro fala a respeito de eventos que realmente se assemelham a aspectos do reinado do rei Salomão. 

No hebraico, o que está escrito, é: "Refe­rente a Salomão." 

Está certo. O Salmo refere-se a Salomão, porém foi escrito por Davi. 

E o que é melhor, foi um salmo profético, semelhante a muitos outros. 

Neste caso, em lugar de ostentar o título "Salmo de Salomão", deveria trazer como epígrafe, "Salmo de Davi" ou, até mesmo, "Salmo de Davi, Referente a Salomão". 

E como podemos deduzir isto? 

É simples. Basta ler o último versículo do Salmo 72 onde está escrito bem claro, para quem quiser ler, sem cochilar, as seguintes palavras: "Fin­dam aqui as orações de Davi, filho de Jessé."









Texto extraído do livro:
O que a Bíblia não diz,
mas muitos pregadores e mestres dizem. (Paulo de Aragão Lins)

Ainda sobre o Tédio - Paulo Sant'Ana


Voltando ao tédio, tema tão recorrente quanto a vida. Eu sei por que fez tanto sucesso a coluna que escrevi sobre o tédio esses dias.
É porque desempregados não têm tédio. Desempregado só tem um mal: o desemprego.
O tédio é um mal que devasta os empregados, os que estão com a vida encaminhada, os aposentados.
E como os assinantes e leitores de Zero Hora são tipicamente de classe média, possuem carro e muitos têm casa na praia, o tédio é dominante entre eles.
Por isso é que todos se identificaram na coluna que escrevi sobre o tédio.
O tédio é um mal que corrói o espírito e derruba o homem porque ele é permanente, são portadoras dele as pessoas aparentemente bem resolvidas.
O tédio também é sintoma aparecido nas pessoas que não têm problemas. Quem tem problemas não tem tédio: tem problemas, não tem tempo de ter tédio.
O tédio é o seguinte: está tudo bem, mas a gente não se sente bem. Como eu já disse, o tédio é filho legítimo do pessimismo: está tudo bem, mas isto não é normal, se continuar assim tudo bem, acabará terminando mal.
Está tudo bem, mas não acontece nada diferente para melhor. Só aquela rotina massacrante, as coisas todas nos lugares, não aparecem novos desafios nem novos encantos, a vida vira uma modorra insuportável, não há espaços para improvisos, tudo se repete de forma insistente, a gente já sabe o que vai acontecer, nada muda.
Está tudo bem, mas não acontece nada de melhor.
Isto também é o tédio.
Quando você avista uma pessoa que tem tudo para ser feliz, é bem empregada, tem família articulada, ou é rica, mas ela diz que não é feliz ou aparenta não ser feliz, isto é o terrível tédio.
É a mesma coisa que você morar em Capri, ter toda aquela paisagem extraordinária à sua disposição, mas só tem aquela paisagem, que de tão linda se torna cansativa.
Isto é o tédio. O tédio é uma paisagem só, exuberante, mas fastidiosa.
O tédio vem muito quando a gente tem um emprego só, uma aposentadoria só, uma mulher só, um marido só. Está tudo muito bem, nem a gente quer que modifique, mas bem que podia ser mais variado.
Isto é o tédio.
O tédio faz parte daquele axioma de que eu era feliz e não sabia. Quase sempre quem porta o tédio é invejado pelos outros, que queriam ter a vida dele. Esses que invejam o tedioso não têm tédio, têm necessidades.
Só que o tedioso é que sabe que a sua vida não é lá tão assim invejável como parece aos outros, tornou-se aborrecida, é um triunfo frustrante, porque definitivo, constante, sem transformações.
O tédio é sinônimo de tristeza, porque caiu sobre a criatura humana uma praga, a de que será sempre triste e insatisfeita, nunca mais aquela mágoa se apaga, mesmo quando aparentemente tudo está bem para ela.
O tédio é isso, é todo fim de dia ou fim de mês, do trabalho para casa, quando sai o pagamento são as mesmas contas que o devoram, o mesmo noticiário desolador na televisão, todos os dias, parece que decorado, pontilhado de violências e de corrupção.
E o tédio é uma condenação da pessoa humana, tão terrível, que ninguém sentirá tédio no inferno, mas o tédio transpõe a vida do homem e o acompanha à eternidade: todos sentirão tédio no paraíso.m