Por Ed René Kivitz
Duas leis a respeito da administração de riquezas
Outro dia um casal amigo precisou de subsídios para decidir a venda de um dos seus imóveis. Na verdade, era bem mais do que um imóvel, era uma propriedade que simbolizava anos de sua parceria conjugal, um lugar muito especial, daqueles feitos a quatro mãos com todos os detalhes contando uma história. Depois de conversar ao telefone, dediquei alguns instantes à oração e depois escrevi para eles um texto resumindo algumas coisas interessantes que aprendi com os rabinos, com referência especial a Nilton Bonder, A cabala do dinheiro, a respeito de propriedades e posses. Duas especialmente.
A primeira é a “lei do máximo proveito”, que diz que o justo não abre mão do que é seu, mas percebe quando o que é seu lhe representa maior ganho não mais sendo seu. O justo passa adiante sua propriedade quando esta transação de transferir a posse lhe proporciona mais prazer, conforto e retorno. Isto é, o justo sabe quando o máximo proveito de uma propriedade está em abrir mão dela.
Conta-se que o Reb Zalman foi abordado por uma pessoa que ficou maravilhada pelas cores do seu manto. A reação dessa pessoa foi tão intensa que o Reb Zalman ofereceu-lhe o manto de presente. O Reb percebeu que a pessoa havia ultrapassado o limite de desejo e naquele instante houve uma mudança sutil no nível de “direito de propriedade”. Reb Zalman poderia ter retido o manto, mas não quis, pois já não lhe pertencia mais, isto é, o máximo proveito que ele poderia extrair de sua propriedade naquele momento era ofertá-la.
Em outras palavras, existe no universo uma cadeia ou fluxo de posses, e a riqueza do universo consiste em entrar na onda desse fluxo, sem represar nem desperdiçar nada. A gente tem que saber quando uma propriedade começa a desequilibrar o universo ficando em nossas mãos. Às vezes, abrir mão de uma propriedade é uma forma de alimentar esse fluxo de riquezas que gera mais riquezas para nós e para as pessoas ao nosso redor. Lembro de uma expressão que muito me desafia: “Quando você tem uma coisa que não pode entregar nas mãos de Deus, na verdade não é você quem tem a coisa, é a coisa quem tem você”. E quando uma coisa tem a gente, é muito perigoso ficar com ela na mão. O melhor proveito está em abrir mão daquilo. Sempre digo a Deus que não quero deixar de lado qualquer coisa que Ele queira me dar, mas também não quero ter nas mãos qualquer coisa que não tenha sido abençoada por Ele.
O outro ensinamento dos rabinos trata do que eu chamo de “lei do enriquecimento integral”. Todos nós temos várias contas correntes: saúde, caráter, relacionamentos, dinheiro, realização, conforto, tranqüilidade, sono, coração e consciência em paz, e assim por diante. O enriquecimento integral acontece quando a gente consegue fazer com que todas as contas cresçam ao mesmo tempo. O justo jamais saca da conta caráter para depositar na conta corrente; jamais saca da conta família para depositar na conta realização pessoal. Mais do que isso, o justo sabe quais das contas sacrificar mais e quais sacrificar menos. Isto é, na hora de escolher entre perder dinheiro e perder a integridade, o justo sempre perde dinheiro.
Esse ensinamento me traz duas considerações. A primeira é que o bem estar pessoal e familiar, o conforto, a tranqüilidade e a paz de espírito são riquezas imensuráveis. Não devemos nem precisamos abrir mão de uma vida confortável. Apenas devemos cultivar um coração capaz de viver no desconforto sem murmurar e sem permitir que isso nos infelicite. Tem gente, por exemplo, que prefere perder dinheiro que perder a paz de espírito, a pureza da consciência e leveza do sono. Prefere abrir mão de uma propriedade que comprometer seu ambiente familiar com ansiedade e o stress de uma dívida ou de uma vida com inquietações desnecessárias ou que poderiam ser evitadas. Em outras palavras, todos nós devemos fazer uma lista de valores inegociáveis. Caso você não a tenha, é bom providenciar com urgência, e depois verificar se Deus concorda com ela.
A segunda aplicação é que sempre devemos fazer distinção entre perda e transferência. Às vezes, queimamos riquezas de uma conta para cobrir os déficits de outra. Mas há casos quando transferimos fundos. Como sabemos a diferença? Quando o depósito numa conta não é uma forma de gerar mais riqueza, então estou pagando dívida. Mas quando o depósito em uma conta gera mais riqueza, então estou fazendo investimento, alavancando resultados, multiplicando recursos e fazendo transferência de fundos. Precisamos discernir quais as contas estão desequilibradas ou precisando de um reforço. E precisamos saber de qual conta vamos sacar o necessário para promover o equilíbrio ou potencialização.
Por exemplo, vale a pena ser promovido para ter um percentual de aumento de salário e partir da nova função ter que viajar e passar a semana longe da família? A recusa do novo cargo acarreta danos aos meus projetos profissionais, e caso positivo, ainda assim, vale a pena ficar longe de casa? Ou, então, esse é mesmo o momento de iniciar uma pós-graduação? Quais as contas ficarão descobertas ou sofrerão saques durante este período? Será que vale mesmo a pena comprar um terreno que vale 70 mil reais sendo que para conseguir os tais 70 mil eu vou me comprometer com dois plantões semanais durante dois anos? Às vezes precisamos dedicar mais atenção à conta “trabalho”, em detrimento de outras, porque o momento exige, e de vez em quando precisamos colocar a conta trabalho em segundo plano para cuidar da conta “filhos” ou “cônjuge”.
Portanto, para administrar posses, sempre me pergunto se terei mais ganho retendo ou transacionando (comprando, vendendo, doando) o objeto? No caso optar por transacionar o objeto, de qual(ais) conta(s) estou sacando e em qual(ais) conta(s) estou depositando? Esta transação do objeto é uma queima de gordura para quitar débitos, um desperdício de recursos, ou uma forma de investimento para alavancar mais riquezas (em todas as dimensões)?
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